Debora Sanna, nascida em Imola, relata sua chegada ao Brasil e como ela abriu diversas frentes de atuação.
No intuito de partilhar experiências de recém-chegados da Itália no Brasil e no mundo, a comissão Nuovi Arrivati traz ao site do COMITES entrevistas exclusivas com pessoas que partilham seu olhar e repensam sua identidade onde chegam.
No início da década de 2010, Debora Sanna chega ao Brasil. Inicialmente formada em Design de produto e Design gráfico na faculdade ISIA de Faenza, a romangola, que já tinha contato com o canto em corais na infância, amplia sua habilidade na área musical e, em 2015, torna-se diretora artística e líder da “Debora e La Piccola Orquestra” – um novo projeto que resgata grandes clássicos italianos, pesquisando e redescobrindo as sonoridades das décadas de 30 a 60.
Em 2022 lança seu primeiro álbum de jazz, “00”, gravado ao vivo e que conta com uma série de clipe disponíveis no YouTube. No mesmo ano, participa como cantora no talent show “Canta Comigo” da Rede Record e chega à final.A trajetória dela é marcada por adaptabilidade e um leque de potenciais, dos quais falamos nesta conversa exclusiva.
- Por que escolheu o Brasil e como está foi recebida? Mora aqui há quanto tempo?
Cheguei no Brasil em fevereiro de 2013, no Rio de Janeiro. Na época eu vim junto ao que era meu companheiro por uma oportunidade de mestrado dele. Nós mudamos pro Brasil atrás dessa nova aventura e a escolha foi por conta das possibilidades entre as diferentes faculdades disponíveis no mundo.
Após nossa separação, eu mudei para São Paulo, cidade que conheci através de um amigo brasileiro da Faculdade de Design, que cursamos juntos na Itália. Desde o primeiro dia eu fui muito bem recebida e me senti em casa, apesar de não entender nem falar o idioma ainda. Tive a sorte de ir morar com a querida Ana Rezceck, que inclusive tem um blog sobre a cidade de São Paulo onde orienta “iniciantes” nessa grande metrópole. Ela que me guiou nos primeiros tempos.
@deborasannamusica
- Você conseguiu trabalhar no nosso país com que fazia na Itália?
Eu sou formada em Design de produto e Design gráfico desde 2008, mas aqui no Brasil meu percurso foi se ampliando, pois já no final de 2013 entrei em contato com o mundo musical profissional através de novas amizades que me introduziram ao ambiente jazz e me incentivaram a trabalhar como cantora. No começo, aqui em São Paulo, trabalhei como diagramadora numa pequena editora; como garçonete; depois com música; como designer; professora de italiano; faxineira… Acho o Brasil um lugar que abre um leque de possibilidades pra quem quer e precisa trabalhar. Hoje em dia trabalho só com música e como designer autônoma.
3 – De qual região italiana você é e quais costumes trouxe para sua nova casa do outro lado do Atlântico?
Eu nasci em Imola, na região da Emília -Romanha, mas se for ver as origens da minha família são na maioria da região da Sardenha. Os dois lugares são lindos: a Sardenha com seu mar e sol, cenários incríveis e um artesanato precioso, um povo acolhedor, íntegro, antigo; e a Emília- Romanha, com as melhores comidas que você pode conhecer no mundo, terra da abundância, tudo bem arrumado, bastante trabalho, um clima mais frio e tanta, tanta neblina. Disso eu carrego a pluralidade de uma realidade mais introspectiva, mas extremamente acolhedora, aquela pessoa que te convida pra almoçar na casa dela e que faz de tudo pra você se sentir à vontade. Carrego o respeito pela a natureza, além de um jeito de ser direto e claro. Sempre serei italiana, porém desde do começo me identifiquei muito como habitante deste lugar e aprendi muitas das coisas boas que o brasileiro tem, como por exemplo a cordialidade e levar as coisas da vida com mais leveza.
- Vê quais diferenças e semelhanças entre os dois países?
Então, como estava falando, a primeira diferença entre Itália e Brasil que eu vejo é na forma cordial e gentil que o brasileiro tem em si, enquanto na Itália às vezes falta até o “bom dia”. Isso é extremamente comum lá, uma certa frieza e grosseria. O brasileiro faz amizade com todo mundo, o que no meu país é bem raro, porque as pessoas são mais fechadas em si. Por outro lado, a Itália, falando da Emília-Romanha, tem muito mais cuidado com a natureza, as ruas são limpas, arrumadas e você tem atendimento público de ótima qualidade (porém não sempre 100% gratuito). A semelhança que vejo é que os dois países amam sentar numa mesa e ter um almoço abundante e gostoso (rs)!
5 – Há cidades preferidas no Brasil, que falam mais forte com a sua identidade?
Infelizmente mesmo em dez anos de vida aqui, eu não tive a oportunidade de viajar muito, por motivos financeiros. Eu tenho uma grande vontade de conhecer o Nordeste, e pelo que me contam, se eu for, não volto mais pra São Paulo (rs).
Entrevista: Isadora Calil, Comissão Nuovi Arrivati